para Guilherme
primeiro o ar tímido —
depois a geologia do riso,
guiado por dois recôncavos,
e a voz rútila que lembra,
assim de relance puro,
o clarão depois da chuva.
é desejo pôr os pés áridos
na praia encharcada e vasta,
sem medo algum das prisões
que ameaçam as pegadas.
da boca se vê uma concha
que talvez guarde no íntimo
as pérolas de um instante
preso na fotografia.
da pele surge o calor
da massa mole, pão fresco
aos fins de tarde com gosto
de palpitação discreta.
o toque no outro chama
como canoa no mar
o vento por toda coluna:
“explore os meus continentes”.
não há medo do naufrágio,
cataclisma, seca infecunda,
se a geologia do teu corpo
refaz sob caracóis do peito
a recriação das coisas.
Douglas Laurindo mora em Manaus (AM). É professor de língua portuguesa, escreve, edita e se dedica à pesquisa. O poema acima integra o livro O limiar das fendas, a ser publicado pela Editora Urutau. É um dos editores da Revista Torquato.