Noite só

na noite aberta

tudo pulsa ao contrário:

alguém está triste

as atrações não estão

ao centro

mas sim em cantos

escondidos e vagos

quantos mundos

cabem em uma cidade?

todos sempre prestes

a serem descobertos

eu ouso pensar

que minhas mãos

apesar 

de parecerem frágeis

conseguem tocar

superfícies concretas

como todos esses prédios

e afundar

passados e promessas

que envelheceram mal

eu ouso pensar 

que a faísca 

que possuímos

um dia se revele

enquanto o céu permanecerá

elevado e abstrato demais

para nós que somos tão humanos

as cidades e seus mundos dormem

eu continuo acordada

a noite e eu estamos sós.

Erlândia Ribeiro nasceu em Porto Velho, Rondônia. É escritora, tendo publicado o livro de contos superfícies/irregulares pela Editora Kotter em 2019 e seu mais recente livro de poemas, vermelho/ruína pela Editora Urutau em 2021. É mestre em Estudos Literários pela UNIR e atualmente é doutoranda em Estudos Literários pela UFES. Trabalha com os diários da escritora argentina Alejandra Pizarnik (1936-1972), seu objeto de vida e de pesquisa. É uma das fundadoras do Clube das Escritoras de Rondônia.

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