I
homem
vagueando em labirinto
fraterno
busca no musgo
traços, rastros,
ainda que vagos,
de algo como que o respirar
de um fugitivo possível
dessas entranhas de mármore
que aos moldes de um hospital
encerram em sua brancura
o próprio negativo de um lar
II
homem
encontra na carniça do outro
a antecipação dos
olhos vazados
de morto
como se na obscenidade
do crânio
algo como que um futuro
tornasse vulgar
o ofício de oráculo
III
homem
andando em círculo
manchando o pouco
de vegetal que a pobreza
de sol permite
com o sangue muito
rubro
prepara com olhos
abertos
ao momento exato
em que a pancada
funcione delicada
como se
algo como
beijo da mãe
traduzisse o fim.
OTÁVIO MORAES é Professor de Literatura e pesquisador. Vive em Belo Horizonte (MG) e pratica natação.