O mundo que aspira a ser Mundo
desemboca nos pântanos onde as desvirtudes se tornam equidades.
Os cidadãos inverossímeis, em sua marcha extemporânea,
constroem epifanias e empunham pós-verdades.
O mundo que respira novos Ares
inala a fumaça que vem da floresta
e que escurece o céu da cidade.
Os cidadãos extemporâneos, em sua marcha inverossímil,
passeiam entre as cinzas dos biomas
e o anoitecer da Alteridade.
O mundo ao contrário:
Urbe dos reis desnudos, dos falsos-ricos,
peças de uma engrenagem falida,
que cheira a sobras históricas
e fartura de carne podre;
Orbe de biltres de fato‚
de viltres com efeito‚ sem rodeios –
vilania desmascarada‚ desmaquiada‚ desmaniqueada –
vileza do espírito‚
fenomenologia do retrocesso;
Órbita de abutres hipo-históricos, hiper-histéricos
grasnando a anticiência.
O mundo ao contrário:
reverso contundente da Razão, elogio permanente à loucura.
I-mundo crescente, crescendo, irrompendo do útero da ignofilia;
caverna transparente, transpossível, transpulsando o escárnio à Filosofia.
Antimundo no qual os Hades emergem dos rios imutáveis,
rodeados por suas matilhas de cães-cérberos,
que ladram uma pseudorreligiosidade
e salivam um pragmatismo desumano.
Desmundo no qual os mitos imergem nas fontes do mal,
de um mal que assola o Macrocosmo atual –
o orgulho de ser ignorante,
de ser arrogante,
de não ser gente.
SAUL CABRAL GOMES JÚNIOR Nasceu em Belém (PA), no dia 21 de maio de 1980. Graduou-se em Letras pela Universidade da Amazônia (2001). Em 1998, obteve o 4º lugar no Concurso Nacional de Contos “Cidade de Araçatuba”. A produção do ensaio O romance regionalista: do panorama ao perfil lhe valeu o prêmio “Carlos Nascimento”, concedido pela Academia Paraense de Letras em 2002. Dois anos depois, teve uma poesia classificada no VIII Prêmio Escriba de Poesia. Reside na cidade de São Paulo há dezenove anos.