Fátima Pinheiro
o que acontece quando temos que tomar o incenso de anis e respirar
com as pupilas aguadas? aquilo que tu olhas não te vê,
só o pulmão pressente a luz que respiras. afogada, so what?,
no quarto, pelo jazz de Miles Davis, escuto, com
uma flor no fundo da cabeça, a matéria radiosa de sua agonia.
uma flor no fundo da cabeça a celebrar a altura do sax.
uma flor no fundo da cabeça a engolir a água profunda.
tanta sombra a recalcitrar cool
a
brisa deitada pela noite
ininterrupta
negra
negra
negra
Fátima Pinheiro é gaúcha e vive no Rio de Janeiro. É autora do livro “sim, é” (Blanche/PR; 2020). Psicanalista, membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise, coordena na EBP-Seção/Rio o Seminário “Sinthoma e Corpo: variações e invenções”. É doutora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Recebeu o Prêmio Universidade Estácio de Sá – UNIVERSIDARTE/ 2001. De 2012 a 2019, foi responsável pela coluna In Situ, de ensaios e entrevistas, no blog da Subversos Editora/RJ. Escreveu artigos, ensaios e entrevistas em revistas no Brasil e exterior. Tem poemas publicados na Zunái (2020), Mallarmagens (2019) e Macabéa Edições (2020). Seu texto, “Flor d’água”, está na coletânea da revista Feminino manifesto, da Nau editora (no prelo).
O poema de Fátima Pinheiro é uma faca só lâmina: seu livro “sim, é” traz poesia de primeira água: na minha opinião, é o melhor livro lançado em 2020.
CurtirCurtir